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Caronte - O Barqueiro do Submundo



Caronte, filho de Érebo e Nix, era um deus velho mas imortal. A sua função era transportar para além do Estige e do Aqueronte as sombras dos mortos em uma barca estreita, feia e de cor fúnebre.

Era não somente velho mas também avaro; não recebia na sua barca senão as sombras daqueles que tinham tido sepultura e que lhe pagavam a passagem. A soma exigida não podia ser menos de um óbolo nem superior a três; por isso os parentes punham na boca do defunto o dinheiro necessário para pagar a sua passagem.


Caronte repelia impiedosamente as sombras daqueles que haviam sido privados de sepultura, e deixava-as errar durante cem anos sobre as margens do rio, onde em vão estendiam os braços para a outra margem.

Em vida nenhum mortal podia entrar em sua barca, a não ser que tivesse como salvo-conduto um ramo de ouro de uma árvore fatídica, consagrada a Prosérpina. A Sibila de Cumes deu um desses ramos a Enéias quando ele quis descer aos Infernos.

Pretende-se mesmo que Caronte foi punido e exilado durante um ano, nas profundezas do Tártaro, por ter passado a Hércules na sua barca, sem que esse deus estivesse munido do magnífico e precioso ramo.


A lenda de Caronte e Corante

Sim, o barqueiro possuía um irmão gêmeo, Corante. Agora você já sabe de onde vem o nome.

Caronte o barqueiro de Hades, responsável por levar as almas dos recém-mortos para o outro lado, atravessando os rios Estige e Aqueronte, que dividiam o mundo dos vivos e o mundo dos mortos. Era filho de Nix, a noite.

Após tentar roubar a caixa de pandora, Caronte que fora pego pelo próprio Zeus recebeu a tarefa de transportar os mortos. No início fazia a travessia com seu irmão gêmeo Corante. Uma moeda para pagá-lo pelo trajeto, geralmente um danake, era por vezes colocado dentro ou sobre a boca dos cadáveres, para poder pagar a tarefa. Cada um dos irmãos utilizava um remo e dividiam as moedas. E isso deveria permanecer durante toda a eternidade. Todavia, Corante notou que as gorjetas estavam cada vez menores e escassas, passou, com isso, a desconfiar de seu irmão. Passou a investigar o irmão e acabou por descobrir que Caronte estava lhe roubando. Ficando com a gorjeta e desviando o faturamento. Os dois irmãos, então, brigaram duramente por 13 meses e 28 dias. Com isso, os mortos ficaram vagando pela terra, pois não tinha quem lhes conduzisse para o outro lado. No 365º dia de luta Caronte afogou seu irmão no rio. Nesta hora o corpo de Corante dissolveu-se tingindo o rio de vermelho.

Segundo vários relatos, Caronte só atravessava para o outro lado quem tivessem com alguma moeda para lhe pagar. Com isso, os mortos que não pudessem pagar tinham de vagar pelas margens por cem anos.

Caronte era representado, muitas vezes, com uma máscara de bronze que servia para ocultar sua face macabra afim de que não assustasse os recém-mortos.

Além dele somente poucos tinham livre acesso ao outro lado. Eram eles: Hermes, Hécade e Thanatos. E, somente, poucos heróis atreviam-se a fazer a travessia, entre eles, Héracles, Orfeu, Enéas, Dioniso e Psiquê - conseguiam viajar até o mundo inferior e retornar, ainda vivos, trazidos pela barca de Caronte.


Representação de Caronte na Mitologia

Esse piloto dos Infernos é representado como um velho magro, grande e vigoroso; os seus olhos vivos, o seu rosto majestoso e severo, têm um cunho divino; a sua barba é branca, longa e espessa; as suas vestes são de uma cor sombria e manchadas do negro limo dos rios infernais; ordinariamente representam-no de pé sobre a sua barca, segurando o remo com as duas mãos.


História de Caronte nas obras

Uma barba inculta e branca pela idade caracteriza Caronte. Das suas pupilas jorra o fogo; e sobre os ombros um nó grosseiro prende e sustenta uma veste suja. Ele próprio impele com o remo o fúnebre barco no qual transporta os corpos. Já é velho, mas a sua velhice verde e vigorosa é a de um deus. A essas margens é que se precipita a multidão das sombras: as mães, os esposos, os heróis generosos, as virgens mortas antes do himeneu. e os jovens postos na fogueira perante os olhos dos pais. De pé, cada sombra quer ser a primeira em passar, e estende as mãos para a outra margem, objeto dos seus desejos. Mas o sombrio barqueiro nem a todas recebe no barco e repele para longe as que exclui. "As que são admitidas ao barco foram inumadas, pois não é permitido transportá-las para além dessas medonhas margens, e das tenebrosas torrentes, antes que um túmulo lhes tenha recebido os ossos. Privadas dessa derradeira honra, as sombras erram e esvoaçam durante cem anos, sobre tais margens." (Virgílio). Um baixo-relevo do museu Pio-Clementino mostra Caronte passando as sombras, no seu barco. Dois mortos descem para entrar no país das sombras, e uma das Moiras estende a mão ao primeiro para ajudá-lo. A Moira tem a roca ainda cheia de fio, o que prova que o morto abandonou prematuramente a vida. Uma deusa infernal segurando uma jarra em cada uma das mãos vem receber os recém-chegados. Caronte não apresenta um tipo nitidamente escrito. De resto, à arte antiga repugnava mostrar o barqueiro dos infernos cuja fisionomia nos é sobretudo conhecida pelas descrições dos poetas. Com representações às vezes, nos monumentos da Idade Média, por exemplo no túmulo de Dagoberto. Na Capela Sixtina, Miguel Ângelo o faz figurar no Juízo Final, onde tem por missão transportar os condenados a quem bate com o remo para lhes apressar o embarque. Para passar era preciso pagar o barqueiro que, sem aquilo, houvera recusado transportar as sombras à derradeira morada. "Tal convicção está tão fortemente estabelecida entre os homens, diz Luciano, que, desde que uni parente tenha exalado o último suspiro, mete-se-lhe na boca um óbolo com o qual pagará a passagem ao barqueiro. Essas pessoas não procuram saber antes se a moeda tem curso no inferno, se ali vale o óbolo ático, macedônio ou o de Egina; nem tampouco refletem que seria muito mais vantajoso aos mortos não ter o com que pagar, já que o barqueiro não os receberia, e os mandaria de volta à morada dos vivos." (Luciano). As tradições sobre os infernos eram, aliás, múltiplas, e os filósofos não deixavam de procurar nelas objeções, como em todas as ficções mitológicas. Se o país das sombras se apresentava à imaginação em cores algo terríveis, não é preciso concluir daí que os antigos, todos, tenham experimentado sobre a entrada dos infernos, o terror que os poetas se esforçam per inspirar nas suas descrições. As comédias que se representavam em Atenas mostram que as ficções relativas à tenebrosa morada podiam, como as outras, dar azo ao gracejo. Nas Rãs de Aristófanes, Dioníso forma o projeto de visitar o reino das sombras, e como teme Cérbero e os terríveis monstros que em tal lugar vivem, toma as vestes de Heracles para amedrontá-los. O herói estivera nos infernos. Dioníso vai, pois, procurá-lo para lhe pedir algumas explicações: "Quanto ao motivo que me traz a ti, com estas vestes tão parecidas às tuas, diz ele, é para que me ensines, em caso de necessidade, a reconhecer os entes que te receberam, quando desceste aos infernos: indica-me também os portos, as padarias, as estações, as estalagens, as fontes, as estradas, as cidades, os alojamentos, as salas em que haja menor número de percevejos." Dioníso, depois de ter as explicações desejadas, vai aos infernos pelo caminho indicado, e termina por ver Caronte: Caronte. - Senta-te ao remo. - Se ainda há almas que queiram passar, que se apressem. - Olá, que fazes aí? Dioníso. - O que faço? Sento-me ao remo, como me ordenaste. Caronte. - Põe-te aqui, barrigudo. Dioníso. - Pronto. Caronte. - Não gracejes; põe-te ao trabalho, e rema com força. Dioníso. - Como poderei remar, eu que não conheço o mar e que nada sei de navegação? Caronte. - Continua sempre, uma vez que estiveres com o remo na mão, e ouvirás os mais doces cantos. Dioníso. - De quem? Caronte. - Das rãs, dos cisnes. Ficarás encantado. Dioníso. - Pois nesse caso, dá o sinal. Caronte. - Upa, upa, upa! As rãs. - Brekekekex, coax, coax. Brekekekex, coax, coax. Filhas das águas lamacentas, unamos os nossos sons ao das flautas, repitamos esse harmonioso canto, coax, coax, que fazemos ecoar no pântano, em homenagem a Dioníso, filho de Zeus, quando na festa das Marmitas, a multidão na ebriedade corre a celebrar as orgias nos lugares consagrados. Brekekekex, coax, coax. Dioníso. - Eu, por mim, começo a ter as nádegas doridas. Coax, coax. As rãs. - Brekekekex, coax, coax. Dioníso. - A vós pouco se vos dá! As rãs. - Brekekekex, coax, coax. Dioníso. - Malditas vós e o vosso coax, coax! Sempre a mesma coisa! Coax, coax. As rãs. - E com direito, bom homem, pois sou amada pelas Musas de lira harmoniosa, e por Pã de pés armados de cascos, que faz ressoar a flauta. Apolo, tão hábil na citara, me estima em virtude dos caniços que nutro nos charcos, para servirem de cavalete à lira. Brekekekex, coax, coax. Dioníso. - Quanto a mim, trago umas empolas. As rãs. - Brekekekex, coax, coax. Dioníso. - Maldita raça de cantoras, nunca terminareis? As rãs. - Cantemos ainda. Se algumas vezes fugindo às chuvas de Zeus, e retiradas ao fundo do abismo, misturamos a voz dos nossos coros ágeis ao ruído das vagas tumultuosas, é agora, sobretudo, que devemos repetir Brekekekex, coax, coax. Dioníso. - Tirar-vos-ei este prazer. As rãs. - Seria para nós um suplício. Dioníso. - Para mim muito maior suplício é arrebentar de tanto remar. As rãs. - Brekekekex, coax, coax. Dioníso. - Malditas! As rãs. - Pouco nos importa. Enquanto a nossa garganta resistir, gritaremos o dia inteiro: Brekekekex. coax, coax". Mal se transpõe o Aqueronte, vê-se Cérbero, cão de três cabeças, que amedronta as sombras com os seus latidos e lhes tira qualquer ideia de regresso. Ao chegarem as sombras são conduzidas à presença de Plutão, rei dos infernos, que está no trono ao lado de Prosérpina. Plutão é o Júpiter infernal, também chamado Serápis. O nome de Serápis é o de uma divindade egípcia cujas atribuições são, aliás, muito obscuras. A importância que adquiriu no período macedônio provém de um fato particular que não se prende senão indiretamente à mitologia. Enquanto Ptolomeu Filadelfo se ocupava em embelezar Alexandria, viu em sonho uma personagem de estatura mais que humana que lhe ordenou mandasse procurar no Ponto a sua estátua, e ameaçando-o da perda do reino, se não obedecesse, Os sacerdotes disseram-lhe que havia em Sínope, no Ponto, um templo assaz venerado, consagrado a Júpiter infernal e contendo a estátua deste. O rei de Sínope, diante do pedido que lhe apresentou Ptolomeu, consentiu em ceder-lhe a estátua; mas o povo se opôs e rodeou o templo para impedir a realização do projeto. A estátua, então, deixou o templo, e transferiu-se sozinha para o navio dos legados que em três dias a levaram a Alexandria. O deus, cuja imagem se multiplicou rapidamente, está caracterizado pelo módio, ou alqueire, que usa na cabeça. Apresenta grande analogia com Plutão, e quando o imperador Juliano consultou o oráculo de Apolo para saber se os dois deuses diferiam, recebeu a seguinte resposta : "Júpiter Serápis e Plutão são a mesma divindade." As estátuas de Plutão são raríssimas. Traz ele sobre a cabeça o alqueire, como Júpiter Serápis, e tem ao lado o cão Cérbero. Apesar de rei das sombras, Plutão não tinha por incumbência julgar os atos dos homens, papel de que se encarregavam Minos, Éaco e Radamanto. Cada homem recebe deles a sorte que mereceu em vida, "Vejo, diz Ulisses, na sua tenebrosa viagem, Minos no trono, empunhando o cetro de ouro e julgando os humanos. Todas as sombras, sentadas ou de pé, na vasta morada de Plutão, defendiam a sua causa diante do rei Minos." (Homero). Prosérpina, como Juno infernal ou rainha dos infernos, está representada numa terracota descoberta em Paestum. Traz a coroa e segura na mão direita uma romã. Uma bela pintura de vaso nos mostra o reino de Plutão. O palácio do rei dos infernos ocupa o centro da composição. Vê-se Plutão sentado num trono e empunhando, como Júpiter infernal, um cetro encimado por uma águia. Prosérpina, de pé diante dele, parece despedir-se do esposo para voltar à terra; segura com uma das mãos o facho que lhe iluminará a marcha através das trevas. As personagens, colocadas bem no alto, à direita e à esquerda do templo, parecem ser bem- aventurados a desfrutar a ventura que mereceram. Nota-se, entre eles, à extrema esquerda, um efebo segurando o estrígil e saindo do banho caracterizado por um focinho de leão vertendo água.



Fontes: MENARD,René.Os infernos.in:Mitologia Greca-Romana, v1.2ª Ed.Vol 1.São Paulo/SP:Opus,1991.Cap. 6.p.139-146, Mitologiaonline, https://alanuemurablog.wordpress.co/

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