Na mitologia nórdica, Eir (nórdico antigo "ajuda, misericórdia") é uma deusa e/ou valquíria associada a competências medicinais. Eir é mencionada na Edda poética, compilada no século XIII a partir de antigas fontes tradicionais; na Edda em prosa, escrita no século XIII por Snorri Sturluson; e na poesia escáldica, incluindo as inscrições rúnicas de Bergen, Noruega a cerca de 1300. Estudiosos têm especulado sobre se estas três fontes se referem ou não à mesma figura, questionando se Eir pode ou não ter sido originalmente uma deusa da cura e/ou uma valquíria. Outrossim, Eir tem sido teorizada como uma forma da deusa Frigga e tem sido comparada com a deusa grega Hígia (Hygieia).
Eir era renomada pelas suas habilidades curativas, mencionada nos Eddas como "a melhor dos médicos", seu nome significando "curar, salvar", o que define a sua real natureza. Ela partilhava com Frigga os atributos de cura e é equiparada com uma das nove companheiras da princesa Menglod, a representação humana da deusa Frigga. Assim como Menglod, Eir morava no topo da montanha Ljfjaberg, para onde as mulheres peregrinavam em busca de cura para todos os seus males e aflições. Ela perambulava pelo mundo levando uma sacola com os recursos curativos da natureza: ervas curativas, raízes, cascas, sementes, cogumelos, pedras e argila, além de um pilão, uma faca e varetas com inscrições rúnicas. Eir atendia a todos os que necessitavam de cura e lhe pediam ajuda, desde que seguissem suas exigências prévias: purificações por meio de jejuns, sauna sagrada, banhos, chás e compressas de ervas e argila, abstinência sexual, reclusão, silêncio e oração.
As práticas curativas ancestrais eram em parte mágicas, em parte ritualísticas, além do uso de bom senso e intuição. No relato de Tácito, menciona-se a presença de mulheres nos campos de batalha, onde elas não apenas faziam encantamentos para enfraquecer ou afastar os inimigos, mas para fortalecer e proteger seus companheiros, cuidando deles quando feridos ou doentes. Uma das Valquírias também chamava-se Eir e ela mitigava o sofrimento dos guerreiros feridos, estancando seus sangramentos com uma pedra mágica.
A ligação entre cura e ritual é comprovada nos antigos relatos pela semelhança entre curadores, magos, xamãs e videntes. As mulheres eram as que mais desempenhavam essas funções, até surgirem as proibições e perseguições da Inquisição, fomentadas pela inveja e rivalidade dos médicos. Nos tempos ancestrais, atribuíam-se às rainhas, às xamãs e às mulheres curandeiras, o dom de curar pela imposição de mãos ou o uso de ervas, unguentos, cataplasmas e poções. Além disso, usavam-se práticas mágicas de exorcismo das entidades espirituais maléficas, a purificação e harmonização dos campos sutis. Em certos casos eram seguidas alimentações específicas, jejuns, saunas e retificação do comportamento para realinhar os campos sutis. Diariamente eram invocadas as deusas Frigga e Eir com orações e oferendas colocadas nos altares das lareiras nas casas, pedindo sua ajuda em todos os aspectos das doenças. Cultuada durante milênios como padroeira das curandeiras, rezadeiras, raizeiras, benzedeiras e parteiras, nos rituais da deusa Eir eram incluídos encantamentos, emplastros, chás, banhos, sons, cores, pedras, cristais, metais, argila, ervas, pulseiras de cobre, ímãs, talismãs rúnicos. A terapia era acompanhada de oferendas para os seres da natureza e feita a conexão consciente com os ciclos lunares e os ritmos naturais.
Eir era conhecida e reverenciada como uma deusa compassiva, mas objetiva e seu alcance se estendia para a harmonia psicoespiritual, além do alívio físico. Ela regia o amplo espectro da cura e as curandeiras ancestrais nórdicas aconselhavam uma vida regrada, equilibrada pela moderação, a harmonia com as forças e os ciclos naturais, orações e oferendas e o cumprimento das normas de conduta e de respeito pelos valores ancestrais, para assegurar assim o completo alinhamento moral e comportamental.
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