Nas fontes escritas Freyr era descrito como o soberano da abundância e da prosperidade. De acordo com Adam von Bremen, a sua imagem no templo de Uppsala era fálica e ele era invocado nos casamentos para conferir paz e fertilidade. Na descrição de Saxo Grammaticus do festival Fròblod dedicado a Freyr, eram incluídos sacrifícios humanos e nos seus rituais encenavam-se dramas ritualísticos "acompanhadas de gestos efeminados e tilintar de sinos". Devido aos preconceitos e distorções cristãs existentes nos escritos de Saxo, é fácil perceber a referência aos antigos ritos realizados para despertar a fertilidade da terra com toques e sons e a encenação simbólica do hieros gamos, o casamento sagrado divino. Outros autores confirmam que o sacrifício humano fazia parte do culto das divindades Vanir, evidência encontrada nos relatos sobre a morte repentina e violenta de vários reis suecos. Considerados representantes da paz e da prosperidade do seu povo e "consortes" das deusas da fertilidade da terra, os reis eram destinados a uma morte sacrificial, quando o seu reinado chegava ao fim ou em situações emergenciais (como seca, pragas, epidemias, invasões dos inimigos). Apesar das referências escritas, não foram encontradas evidências arqueológicas sobre esses ritos sacrificiais para Freyr na Suécia (seu habitat).
Freyr era associado ao culto dos cavalos, que eram muito bem cuidados, honrados e consagrados em todos seus templos. As lutas entre cavalos descritas em várias sagas, e que eram muito apreciadas na Islândia, eram oriundas deste antigo culto.
Outro animal ligado a Freyr (e à sua irmã Freyja) era o javali, cuja imagem foi encontrada em inúmeros objetos cerimoniais, de decoração e peças de vestuário, bem como sobre os elmos e armaduras dos guerreiros nórdicos e celtas (que acreditavam nos seus atributos de proteção e preservação da vida). Algumas tribos germânicas usavam máscaras de proteção e elmos com formato de javali, costume adotado também pelos reis suecos, cujos elmos se chamavam "porco guerreiro" ou assumiam os nomes dos javalis sagrados de Freyr e Freyja: Gullin-bursti e Hildisvin. Apesar dos Vanir não serem deuses da guerra, a proteção por eles conferida se estendia para épocas de paz e guerra e era simbolizada pelas máscaras de javali, usadas pelos xamãs e chefes nos rituais dedicados a eles.
Além do cavalo e do javali, um importante símbolo de Freyr era o navio, representando Skidhbladnir, o navio mágico, grande o suficiente para nele caberem todos os deuses, mas que podia ser diminuído até caber no bolso de Freyr. Esse navio tinha sido construído pelos anões e podia se deslocar em qualquer direção, sem precisar de ventos favoráveis. Resquícios desse antigo símbolo nórdico permaneceram nas procissões e nas réplicas de barcos guardadas nas igrejas escandinavas até os tempos modernos. Alguns desses barcos eram usados nas cerimônias de bênção da terra, comprovando a continuidade da antiga tradição no contexto cristão. O navio era um antigo símbolo religioso, usado desde a Idade do Bronze principalmente nas cerimônias fúnebres dos povos nórdicos, como pira funerária ou receptáculo de oferendas (sendo enterrado depois nas colinas ou mergulhado nos lagos).
O culto de Freyr foi levado da Suécia para a Noruega e a Islândia, onde vários lugares portam seu nome, com a intenção de atrair seu atributo de fertilidade para a terra. Como gratidão pelas suas bênçãos, ou para atraí-las, eram feitas inúmeras oferendas como comprovam os ricos achados das escavações arqueológicas do lago Skedemosse e das ilhas Õland e Gotland.
Não foram identificadas regras sobre o tipo de oferendas destinadas às divindades Vanir, consideradas um grupo familiar. Desse grupo faziam parte os pais, Xjord e Nerthus, e os filhos, Freyr e Freyja, regentes da fertilidade da água, terra, animais e seres humanos. Essas oferendas incluíam, além de animais e armas, objetos de ouro como anéis, moedas e colares. O ouro era denominado "fogo da água e da terra" e usado como uma forma de atrair pelo seu oferecimento riqueza, paz e plenitude. Outras oferendas incluíam ferramentas agrícolas, objetos de cerâmica e madeira, tecidos, lã, meadas de linho, alimentos, cera, especiarias. A presença de ornamentos, tecidos, fios e comidas indicavam a presença de mulheres e o culto de deusas associadas com locais naturais específicos (mar, lago, rio, fonte, árvores, rochas, grutas).
Não havia um rito específico ou uma apresentação formal das oferendas para as divindades, ofertava-se aquilo que as pessoas consideravam valioso e em função das suas possibilidades. Por isso, era comum a partilha das comidas e bebidas das festas com as divindades, um ato de gratidão, alegria e celebração. A carruagem era um antigo símbolo dos Vanir e aludia às procissões feitas pelos deuses Ingvi, Nerthus e Freyr para levar paz e prosperidade aos seus povos. A runa Ing, ou Ingwaz, era atribuída aos deuses Ingvi (consorte de Nerthus, a Mãe Terra ancestral) e a Freyr (possivelmente seu filho). Ambos regiam a fertilidade da terra como doadores da luz solar, da chuva e do orvalho, da paz e da abundância. O nome Frodhi (o fértil) foi atribuído pelos daneses a vários reis que personificavam os poderes dos deuses Freyr ou Ing.
Diferente do culto de Odin, nos templos de Freyr era proibida a entrada de armas e cavalos (apenas éguas) por serem a ele consagrados. Havia uma supervisão severa para que nos lugares sagrados a ele consagrados não fosse derramado sangue, nem houvesse disputas. Freyr era associado também com o sol, o casamento, a fertilidade humana e o nascimento das crianças, além de trazer alegria e inspirar a devoção.
A importância de Freyr como ancestral dos reis e de grandes tribos - como a dinastia real sueca dos Inglings e a germânica dos Ingvaeones - é visível no nome da runa Ing e seu verso do poema anglo-saxão: "Ingjoi visto primeiramente pelos daneses do leste, sobre as ondas, seguindo em sua carruagem. Por isso, os guerreiros o chamaram de herói". Freyr era associado à ideia da peregrinação da alma pelo mar; em várias lendas, conta-se a chegada de um rei pacificador do além-mar, que depois de governar por um tempo de paz e prosperidade desapareceria no mar deixando o reino para seu sucessor.
Apesar de Freyr ter sido um deus da soberania e fertilidade da terra, promotor da paz e proteção do povo, ele era considerado também um deus guerreiro e protetor dos deuses. Por ter cedido a sua espada e seu cavalo para se casar com Gerd (episódio descrito no seu mito), Freyr é associado com a arte do combate sem armas, honrando assim o seu poder e coragem ao enfrentar o gigante Surt no embate final do Ragnarök, desarmado, mas valente.
Por ser o cavalo um animal consagrado a Freyr e associado com Freyjaxi (o totem do deus), ele não era sacrificado nas oferendas, mas cuidado e mantido nas dependências dos templos. Freyr cavalgava apenas seu javali Gullinbursti (bigodes de ouro) cujos pelos brilhavam no escuro e que tinha sido confeccionado pelos anões Ivaldi e Brokk (que também tinham feito o anel Draupnir de Odin e Mjöllnir, o martelo de Thor), usando um lingote de ouro e uma pele de porco. Os elmos famosos de reis e os achados nos sítios arqueológicos (os de Sutton Hoo e Benty Grange), com detalhes dourados e olhos de rubis, mostram que Freyr tinha adeptos entre os guerreiros e nobres. O javali como símbolo de proteção associado com os Vanir era conhecido no tempo de Tácito, assim como também era usado para selar juramentos e votos de lealdade.
Freyr recebeu como presente da troca dos dentes de leite (teething gift, costume comum no norte europeu significando a passagem para a adolescência) o reino dos elfos, Affheim. A associação de Freyr com os elfos revela uma característica pouco divulgada - a sua regência das câmaras mortuárias e dos espíritos ancestrais que nelas residiam, pelo fato de os ancestrais serem reverenciados nesses túmulos e associados com os elfos. Nas sagas, Freyr aparece como o guardião da soberania da terra e suas bênçãos preservam e protegem as terras dos seus adeptos, enquanto sua raiva afasta os invasores. A soberania nos tempos antigos era ligada à fertilidade, o vigor físico do rei sendo a garantia da vitalidade do seu reino, o que explica os suicídios ou mortes sacrificiais de alguns soberanos para ativar ou renovar as dádivas da terra.
Existem outros arquétipos masculinos semelhantes a Freyr, com nomes diferentes. Um deles era representado pelo rei dinamarquês Frodhi, cujo reino foi extremamente próspero e pacífico e que após sua morte era levado em uma carruagem para abençoar a terra. Ele era equivalente do deus Freyr cultuado na Suécia, possivelmente um deus arcaico humanizado após a cristianização. Em Ynglinga Saga, o escritor Sturluson conta sobre um rei chamado Freyr, muito amado pelo seu povo e cuja morte foi mantida em segredo por três anos. Durante esse tempo os sacerdotes de Freyr colocavam os tributos de ouro e prata na câmara mortuária do rei - pelas aberturas laterais - para garantir a paz e a prosperidade. Quando a sua morte íoi revelada, o cadáver não foi cremado para que as bênçãos de Freyr continuassem permeando a terra. O túmulo tornou-se local de peregrinações e de vigília noturna (denominada utiseta), pela identificação do rei com o próprio Freyr.
Outro personagem, histórico e mítico, foi o anglo-saxão Ing, citado anteriormente e mencionado no poema rúnico. O seu culto migrou do sul da Suécia para a Dinamarca e de lá para o continente, onde foi considerado fundador de várias dinastias reais. É possível que Ing fosse um dos nomes de Freyr - como Ingvi, ancestral dos reis suecos, os Inglings, que reinou em Uppsala e trouxe prosperidade e paz. Quando ele morreu os seus sacerdotes o colocaram numa câmara mortuária cavada numa colina (burial mound) e informaram o povo de que "Freyr tinha ido para as colinas", expressão que se tornou sinônimo de morte. Um ancestral real dos daneses que veio de além-mar e lhes trouxe paz e prosperidade era Scyld, descrito no poema inglês "Beowulf" como um jovem que trouxe um navio cheio de riquezas e se tornou rei da Dinamarca, indo embora no fim do seu reinado (possivelmente morto e entregue no seu navio ao mar de onde tinha vindo).
Filho de Nerthus e Njord, irmão gêmeo de Freyja e marido de Gerda, Freyr era um deus extremamente benéfico para a natureza e a humanidade, sendo invocado para trazer bom tempo, calor e luz solar, fertilidade, abundância, boa sorte e paz. Seu título era The Lord (o Senhor), enquanto o de Freyja era The Lady (a Senhora) e é nesta complementação de polaridade que eram reverenciados e cultuados nos antigos ritos de passagem e de fertilidade. Enquanto a Senhora era a fonte de geração, nutrição e sustentação da vida, o Senhor era o guardião e distribuidor das riquezas da terra; juntos eles proporcionavam a sobrevivência e a continuidade da vida humana, telúrica (animal, vegetal, mineral) e aquática. Nos antigos rituais a eles dedicados agradeciam-se os recursos e a abundância da Mãe Terra, representada pela sua mãe, a deusa Nerthus, bem como os do seu pai o deus marinho Njord, ambos honrados como os detentores e doadores da riqueza da terra e do mar.
O mês de dezembro no antigo calendário nórdico era consagrado a Freyr e eram realizadas festas para celebrar o seu retorno no solstício de inverno, chamado Yule, que significava "roda", por se acreditar que nesse dia o sol girava no céu; em sua homenagem eram acesas rodas de palhas e galhos, roladas colinas abaixo até caírem em um curso de água. Como Yule era a maior festa do ano, comemorada com danças, comidas e brindes de bebidas para as divindades, os missionários cristãos a transformaram na festa de Jesus; na ceia de Natal continuava sendo servido o javali de Freyr (substituído depois pelo leitão) coroado com alecrim, louro e maçãs assadas. Freyr era invocado pelos casais para viverem em harmonia, Fio significando "alegria".
Como regente da força vital, Freyr era cultuado como deus da agricultura e da virilidade humana. Seu culto persistiu muito tempo após a cristianização, sendo chamado de Veraldar God (deus do mundo). No templo de Uppsala, na Suécia, Freyr era reverenciado no solstício de inverno com um grande festival chamado Fróblot, incluindo sacrifícios, encenação de dramas rituais, danças, toques de sinos e palmas, atitudes vistas com desdém pelos guerreiros, que consideravam esse comportamento dos sacerdotes como afeminado e indigno. Do culto de Freyr faziam parte os ritos de fertilidade, cujo objetivo era "despertar" a terra e incentivar fartas colheitas e a procriação (animal e humana). Esses ritos foram condenados pelos padres cristãos que os proibiram, considerando-os "orgias sexuais" associadas com o diabo, personificado pelo Freyr, com seu adorno de chifres e falo ereto.
As representações de Freyr reproduziam os antigos ídolos e os desenhos rupestres neolíticos, ou seja, figuras masculinas com enormes falos eretos. Essa característica de virilidade aparecia também nos amuletos de prata mencionados nas sagas e em algumas estórias sobre o embalsamento e a reverência ritualística feita a um falo de cavalo. Chamado de Vdlsi, o falo simbolizava o poder fertilizador masculino invocado para fecundar a terra. Existe um elo entre o cavalo e o culto de Freyr, os cavalos sendo ofertados para que ele assegurasse boas colheitas e escolhidos entre os vencedores dos combates feitos entre si. Foram encontrados esqueletos de cavalos nas escavações de Skedemossse e em outros locais da Suécia; o couro, a cabeça e os cascos eram guardados e a carne consumida nas festas que se seguiam aos sacrifícios.
Freyr era descrito nos mitos e nas estórias como um belo jovem, com cabelos na cor do trigo maduro (sendo o deus dos grãos e da colheita), tendo um temperamento jovial e alegre, que gostava de festas e celebrações, em cujos antigos altares eram ofertados produtos da terra (grãos, frutas, sementes), chifres (símbolo de fertilidade e seu atributo que mostra a semelhança com Cernunnos, o deus chifrudo celta e o fálico deus grego Pã) e sinos que eram usados para anunciar a sua chegada. Apesar da sua explícita virilidade (representada de maneira plástica nas imagens), ele teve apenas uma ligação afetiva, com a deusa Gerd. Nas estátuas dos seus templos Freyr era representado nu, com um chapéu pontudo, sentado e com o falo ereto em evidência.Também era retratado como um homem forte e ágil, com barba e cabelos ruivos, olhos verdes, usando botas e cinto de couro preto, túnica e calça branca e várias pulseiras de prata nos braços. As vezes ele era descrito cavalgando seu javali de pelos dourados, com um adorno de chifres de cervo na cabeça e empunhando uma espada luminosa e flamejante, que desferia golpes com o comando da sua voz, a única arma capaz de deter os avanços do Surt, o gigante do fogo destruidor. Freyr cedeu-a junto com seu cavalo para conquistar a sua amada e por isso no Ragnarök ele irá lutar desarmado contra Surt, usando apenas um par de chifres de alce. Entre os vários nomes atribuídos a Freyr podemos mencionar: Argud (deus da colheita), Bjart (brilhante), Bodfrod (sábio gurreiro), Dear (sacerdote), Fegjaja (doador da riqueza), Mattug (poderoso), Folkvaldi (governante do povo), Frodhi (fértil), Veraldar God (deus do mundo).
Freyr e Freya
Freyr, além de ser deus do sol e da chuva, era o principal deus nórdico da fertilidade. Fréia, sua irmã, era a deusa do amor, do nascimento e da colheita, Eram lilhos do deus do mar Njórde faziam parle da tribo dos deuses vanires.
Inicialmente amantes, Freyr e Freia passeavam juntos em suas montarias: Freyr montado no javali dourado Gullinborsti; a irmã montada em Hildisvini, um javali de batalha. Após a guerra entre os dois clãs de deuses nórdicos, o casal se separou. Freyr desposou a gigante Gerd e Freia casou-se com Od, deus do sol.
Diz-se que os irmãos tinham o poder de inculcar o desejo sexual em qualquer um.
Freir era também deus da prosperidade e da paz, conhecido por sua ajuda e conselhos. A ampla esfera de influência dos deuses irmãos assegurava o seu culto por toda a Escandinávia.
Culto
No inverno, uma imagem de Freyr ia de carroça para povoados remotos. Os cavalos sagrados do santuário em Thrandheim eram sacrificados "para o deus comer". Rochas esculpidas na Idade do Bronze em Ostergõtland, Suécia, parecem representar este deus.
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