Gerd não se deixava governar por impulsos e paixões, sabia como dominar e ensinava o respeito e a manutenção de limites. Costumava incentivar as mulheres solteiras a não "abrirem seu templo" para qualquer um. Para Gerd, as mulheres eram sagradas e só deveriam se relacionar com homens após observarem muito ele e fazer algumas avaliações a respeito dele ser o "parceiro ideal".
Existem poucas referências escritas sobre Gerd, além da riqueza dos detalhes da sua união com o deus Frey. Apesar de ser filha dos gigantes Gymir e Aurboda, Gerd (ou Gerda, Gerth) é citada como deusa Asynjur, status por ela alcançado após seu casamento com um deus. Gerd era conhecida pela sua radiante beleza, pois quando caminhava deixava um rastro de fagulhas e, quando levantava os braços, irradiava uma luminosidade brilhante sobre o ceu, a terra e os mares (interpretada por alguns autores como sendo os reflexos coloridos da Aurora Boreal). Foi devido a esta luminosidade que Frey a descobriu, e, após se casar com ele, Gerd adquiriu o status de deusa da luz.
Um dia, na ausência de Odin, Frey sentou-se no seu trono e, perscrutando os mundos distantes, viu no longínquo e gelado norte uma linda donzela, cuja beleza irradiava uma luz dourada ao redor. Frey apaixonou-se perdidamente, caindo numa profunda tristeza e apatia, que deixou preocupado seu pai Njord. Após confessar ao pai seu amor e a firme intenção de se casar com ela, Njord, sabendo que era filha de gigantes, encarregou o fiel auxiliar de Frey, Skirnir, em tentar persuadi-la para aceitar o pedido de casamento. Levando a espada de Frey, algumas maçãs douradas e o anel mágico Draupnir (um dos tesouros dos deuses), Skirnir montou o cavalo de Frey e viajou para Jötunheim, seguro do seu sucesso como emissário divino. Porém, apesar dos presentes e dos argumentos persuasivos de Skirnir, Gerd recusou firme e decidida a ideia de se casar com um deus, mesmo que fosse o belo e bondoso Frey. Vendo que nada poderia demover a donzela da sua recusa, em desespero de causa, Skirnir a ameaçou com a espada e depois com encantamentos rúnicos, que a tornariam doente, feia, velha e devassa, obrigada a se casar com um gigante velho e horrendo. Aterrorizada com os sombrios feitiços, Gerda aceitou finalmente se casar com Frey, exigindo sua espada e cavalo como presentes e um prazo de nove dias antes de encontrá-lo, tempo que, para Frey, pareceu uma eternidade. Tendo cedido a espada para Gerda (que a deu depois ao tio dela, o gigante Surt) Frey irá lutar a pé no Ragnarök, armado apenas com um par de chifres de alce, sendo assim vencido pelo próprio Surt.
Este mito pode ser visto como a representação metafórica do casamento sagrado entre o deus da fertilidade e a deusa da terra, ou a exemplificação do ciclo sazonal anual: a transformação da terra congelada e árida pelos rigores do inverno (simbolizado pelas nove noites), aquecida pelos raios solares e desabrochando na primavera. O calor solar derretia as camadas de Gelo que cobriam a terra, assim como o amor insistente de Frey removeu a frieza de Gerd. Outra interpretação parte do significado etimologico do seu nome, "cercado", apontando não apenas para uma terra fechada, mas para o ato de cercar ou defender. Gerda tem um comportamento reservado, contido, se entregando lentamente, com cautela e aos poucos, apenas àquele que considera merecedor da sua aceitação e afeto.
Antes de se casar, Gerd habitava uma simples casa de madeira cercada de montanhas, em Jötunheim, de onde saiu para morar no faustoso palácio de Frey em Alfheim. Seu nome era associado com a terra, os lugares sagrados e os campos, o seu casamento sendo a descrição da união sagrada ente o céu e a terra, celebrada nos rituais dos Sabbats celtas e dos Blots nórdicos. A principal característica de Gerda era a sua maneira reservada de se comportar e a sua firme recusa em se deixar coagir ou "comprar" com presentes. Como seu nome é associado também a "local cercado, templo", a sua determinação em não ceder mostra o recolhimento no seu próprio espaço sagrado, simbolizando assim a preservação do self. Como giganta, Gerda tinha o potencial de manifestação do poder primal, caótico e destrutivo, mas que ela controlava e continha pela sua maestria e domínio. Ela não se deixava governar por impulsos e paixões, pois sabia como dominar o caos e por isso ensinava o respeito e a manutenção de limites. Ela orienta, portanto, a manutenção da integridade, o fortalecimento da autoestima, a lealdade aos próprios valores e o recolhimento interior.
Como protetora das mulheres solteiras, ela lhes recomendava o recato e o respeito pela própria sacralidade feminina, para que assim abrissem seu "templo" apenas no devido tempo, para o parceiro certo e com a necessária observação, avaliação e precaução. A autopreservação é uma qualidade importante que era conferida por Gerda àqueles que dela precisavam, seja como proteção nas práticas mágicas e espirituais, seja nos relacionamentos familiares e afetivos. Ela protegia contra a falsidade, as ilusões e as armadilhas emocionais ou sensoriais, evitando que as mulheres ficassem enfraquecidas pelas concessões ou submissões, recomendando-lhes a clara observação e a prudência nas escolhas e ações.
Gerda ensinava também como fortalecer a hamingja (sorte, poder) pessoal e familiar e honrar os ancestrais, resgatando os vínculos com as energias sagradas da terra, dos ciclos e estações, das pedras e das plantas. A sua sabedoria recomendava paciência, autoestima e a reverência pela sacralidade do espaço: exterior (nas práticas espirituais) e interior (o templo do Eu superior), onde devia ser procurado o silêncio e ouvida a voz divina.
Gerda era invocada nas situações em que era imperioso vencer oposições ou resistências (das pessoas ou das circunstâncias) e para ativar os brotos tênues de novos projetos. As antigas datas das suas celebrações eram dedicadas ao casamento sagrado - divino e humano - como o Sabbat celta Beltane ou a festa nórdica e teutônica do dia primeiro de maio (Majjest).
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