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Hefesto / Vulcano - O Deus das Forjas


Filho de Zeus e de Hera, consoante Homero, ou vindo ao mundo sem união de amor, conforme Hesíodo, o deus das forjas teve um nascimento bastante complicado. Hera, continua Hesíodo, por cólera e desafio lançado ao esposo, gerou sozinha o filho. A cólera da deusa e o desfio ao esposo se deveram ao nascimento de Atena, que saiu da cabeça de Zeus, sem o concurso de Hera.

Para o defeito físico de Hefesto há duas versões. A primeira está na Ilíada, Hera discutia violentamente com o marido a propósito de Héracles e Hefesto ousou tomar a defesa da mãe. Zeus, enfurecido, agarrou-o por um dos pés e o lançou para fora do Olimpo. Hefesto rolou pelos espaço o dia todo e somente ao pôr-do-sol caiu na ilha de Lemnos, onde foi recolhido pelos sintios, considerados os primeiros habitantes da ilha. Com o tombo, o deus aleijado e manquitolava de ambas as pernas, o que sempre lhe trouxe muitos problemas de ordem psíquica. A segunda versão está ainda na Ilíada: Hefesto já teria nascido coxo e deformado. Humilhada com a fealdade e a deformação do filho, Hera o lançou do alto do Olimpo. Após rolar pelo vazio durante um dia inteiro, o infeliz caiu no mar, onde foi recolhido por Tétis e Eurínome, que o "guardaram" durante nove anos numa gruta submarina, o que mostra com clareza o longo período iniciático do deus coxo. foi nesta gruta de Hefesto fez sua longa aprendizagem: trabalhava o ferro, o bronze e os metais preciosos, tornando-se "o mais engenhoso de todos os filhos do céu". Em sua longa carreira de ferreiro e ourives divino, Hefesto multiplicou suas criações, forjando e confeccionando os mais preciosos, belos e "surpreendentes" objetos de arte que já se viram. Para vingar-se da mãe, fabricou e enviou-lhe um presente magnífico: um trono de ouro, delicado e artisticamente cinzelado. As recebê-lo, Hera ficou estupefacta: jamais vira coisa tão rica e tão bela, mas, ao sentar-se nele, ficou presa, sem que nenhum dos deuses pudesse libertá-la, porque só o ourives divino conhecia o segredo do atar e desatar. Foi necessário enviar Dionisio, para levá-lo de volta ao Olimpo. O deus do Êxtase e do entusiasmo embriagou Hefesto e, assim, foi possível guiá-lo, montando num burro, até a mansão divina. Para Tétis, a quem era imensamente grato, fabricou jóias preciosíssimas e forjou, a pedido desta, novas armas para Aquiles.

A obra-prima do coxo genial, porém foi a "criação" da primeira mulher. Por solicitação de Zeus, Hefesto modelou em argila uma mulher ideal, fascinante, a irresistível Pandora. Não a modelou apenas, foi além do artista: animou-a com um sopro divino. Se Pandora, de um lado, patenteia a genialidade e o poder de que estava investido o deus dos nós, de outro, demonstra que os gregos tinham noção perfeita de que o limo da terra, o homo-humus é animado por uma centelha de eternidade, isto é, por uma alma imortal.

Hefesto, fisicamente an odd number, um mutilado, só teve por mulheres a grandes belezas. Já na Ilíada, está unido a Cáris, a Graça por excelência; Hesíodo, lhe atribui Aglaia, a mais jovem das Cárites; Zeus, por fim, para "compensar tudo", deu-lhe em casamento a própria beleza, a deusa do amor, Afrodite. Para alguns intérpretes, essa ânsia de beleza por parte de Hefesto traduziria menos o sentimento de um doloroso contraste físico do que a idéia profunda que o incomparável artista possuía da suprema beleza. É bem possível que essa visão "com olhos da alma" preencha o ângulo estético do problema, mas, ao que parece, há outras causas.

A mutilação de Hefesto, todavia, não o impedia de ser valente, destemido e de tomar parte nos combates. Senhor do elemento ígneo na Gigantomaquia luta bravamente com o gigante Clício e o mata, golpeando-o com barras de ferro em brasa. Em Tróia toma o partido dos aqueus e combate agitando labaredas. Quando o rio Escamandro ameaçou submergir Aquiles, o deus coxo, por solicitação de Hera, avançou com suas chamas e seu sopro ígneo sobre as águas do rio e o obrigou a retornar a seu leito. Nessa luta de elementos, maravilhosamente descrita por Homero, a água é vencida pelo fogo: (kaíetod'ís potamoio), a força do rio está em chamas, diz significamente o cantor de Aquiles. Afinal a etimologia proposta para Hefesto, o que incendeia a água, parece, ao menos semanticamente, não andar muito longe da verdade. Os antigos já reconheciam no coxar do deus o movimento vacilante da chama ou o ziguezague do raio, pois que o ourives divino personifica o fogo, não o celeste, mas o telúrico, cujo principal centro estava localizado na ilha de Lemnos: trata-se do histórico Vulcão de Lemnos, do que fala Sófocles na tragédia Filoctetes, que se manteve muito ativo até a época de Alexandre Magno. Acreditava-se que foi perto desse vulcão que o deus caiu, quando tombou do céu, no sopé do mosiclo, onde se ergueu, mais tarde, seu templo. Nas profundezas da ilha se localizavam primitivamente suas forjas e bigornas, antes de serem as mesmas transferidas para o monte Etna e para o Olimpo. Na costa norte de Lemnos estava a cidade de Hefestia, epônimo do deus, onde se celebrava em sua honra, exatamente como nas Hefestias de Atenas, "a corrida com fachos acesos", a mesma Lampadedromía, com que se homenageava também Atena. Diga-se logo que essas "corridas dos fachos" têm sua origem num rito muito antigo da renovação do fogo.

A campânia do sul, mais precisamente as ilhas Lípari, bem como a região do Etna foram outros dois grandes centros de seu culto: ali o deus tinha respectivamente os epítetos de liparaios e Aitnaios, Lipareu e Etneu. É que no Etna foram localizadas mais tarde suas forjas, onde o deus trabalhava com o auxílio dos Ciclopes, segundo um tema característico da poesia alexandrina. E é bom não esquecer que é sob a massa fumegante do Etna que Tífon, "demônio dos vulcões", expia, no calor insuportável e no barulho infernal das bigornas de Hefesto, sua revolta contra Zeus.

O mito de Erictônio une estritamente Hefesto e Atena e à Ática, onde Hefestiás foi o nome de uma das quatro tribos primitivas.

No Hino Homérico, onde é exaltado por sua "engenhosa habilidade", o deus coxo está associado à deusa da inteligência como inspirador de "nobres trabalhos", fonte da civilização e da cultura humana. Seu altar no Erékhtheion, Erecteu (templo de Atena Poliás na Acrópole) e a estátua de Atena no templo do deus, na Ágora, demonstram que suas núpcias intelectuais e artísticas eram para sempre.

Platão se aproveitou dessa sizígia e num passo de Protágoras coloca o "casal" num mesmo ateliê e, depois mais especificamente no Crítias, faz que Atena e Hefesto partilhem o domínio, a suserania de uma Atenas utópica, que seria seu quinhão comum e único. O filósofo ateniense insiste na identidade natural das duas divindades e de seu amor comum pela ciência e pela arte, pois que ambos conjugam (philosophía) e (philoteknhía), um duplo amor que caracteriza igualmente a cidade entregue à sua vigilância e a seu desvelo.

Foi sobretudo sua philotekhnía, seu amor à arte, que fez de ambos os protetores incontestes dos artesãos. No bairro de Cerâmico, berço principal das (khalkeîa), "Calquias", da grande festa dos "metalúrgicos", Atena e Hefesto reinavam soberanos.

Nas (Hephaísteia), "Hefestitas", festividades em honra de Hefesto, quando se realiza uma Lampadedromía, nos mesmos moldes daquelas das Panatenéias, a convidada de honra era Atena. Nas (Prométheia), "Prometias", solenidades em honra de Prometeu, "espécie de deus irmão", em que Ésquilo vê também um promotor de todas as artes, lá estavam, ladeando o homenageado, Hefesto e Atena. Tem-se a impressão de que a sensibilidade, a cultura e o espírito artístico ateniense se alicerçavam no triângulo Atena-Hefesto-Prometeu.

Um derradeiro encontro com Hefesto se fazia nas Apatúrias, sempre com a presença do fogo, mas do fogo numa acepção menos material. Nessa festa, tão importante para a comunidade ateniense, Hefesto era homenageado com Atena Fratria e Zeus Frátrio, uma comunhão fraterna, em que o deus do fogo era aclamado como protetor da lareira e da família.

A tradição atribui a Hefesto vários filhos: o argonauta Palêmon, o escultor Árdalo, o famoso salteador Perifetes, que foi morto por Teseu, e Erictônio, nascido de um desejo do deus das forjas por Atena.

É o xamã dos nós, o deus-enfaixador. E graças a seus trabalhos artísticos e mágicos, como tronos, redes, correntes, é capaz não só de atar deuses e deusas e até o Titã Prometeu, como está no Prometeu Acorrentado de Ésquilo, mas ainda sabe, quando solicitado, desatar com maestria, assistindo Zeus como parteiro, por ocasião do nascimento de Atena, e libertando sua mãe do trono e sua esposa e o amante Ares da corrente invisível. "Em parte alguma, aliás, a equivalência da magia e da perfeição tecnológica é mais bem valorizada do que na mitologia de Hefesto. Os nós, as redes, os cordões, as cordas, os barbantes alinham-se entre as expressões ilustradas da força mágico-religiosa indispensável para poder comandar, governar, punir, paralisar, ferir mortalmente; em suma, expressões "sutis", paradoxalmente delicadas, de um poder terrível, desmedido, sobrenatural", diz Mircea Eliade.

E todo esse poder maravilhoso e terrível, construtivo e destrutivo, Hefesto o deve ao Domínio do Fogo, apanágio dos xamãs e dos mágicos, antes de se tornar um grande segredo dos ferreiros metalúrgicos e oleiros.

Como Demonstrou Dumézil, completado e ampliado com mais riqueza de informações por M. Eliade, a soberania de um deus está no seu saber e poder ligar e desligar, mas todo esse poder lhe é comunicado pela magia. É assim que deuses mágicos como Varuna, Urano, Zeus, Odin, Rômulo (Quirino), Hefesto... têm em suas mãos uma arma fatal, a magia, cuja manifestação exterior são os nós, os laços, as cordas, as redes, os anéis, as cadeias... sob forma material ou figurada. Um poder assim extraordinário lhes permite governar, administrar e equilibrar o mundo. São normalmente deuses que, antes ou excepcionalmente após a conquista do poder, não mais participaram de guerras ou combates. Manipulando a magia, esses imortais soberanos dispõem de outros meios mais eficazes: o dom da ubiqüidade ou, quando não, do transporte imediato, a arte de a astúcia de metamorfoses ilimitadas, a capacidade de cegar, ensurdecer, paralisar os adversários e arrebatar toda e qualquer eficácia de suas armas. Daí a oposição entre deuses soberanos e deusas guerreiros: Varuna se opõe ao guerreiro Indra; Zeus, desde as epopéias homéricas, opõe-se a Ares; Zeus a Ares... A tão comentada passividade dos deuses soberanos do céu corresponde a seu poder mágico: esses entes supremos agem sem agir, fisicamente, porque operam diretamente com a potência do espírito.

Como símbolo, Hefesto parece traduzir uma personagem descompensada. Coxo, deformado, desprezado pelo pai e pela mãe, desposou Afrodite, a mais bela das deusas, que o traiu com Ares e vários outros deuses e até com mortais. Uniu-se a Cáris, a mais lida das Graças e amou Aglaia, a mais jovem das Cárites. Mestre consumado nas artes do fogo, governou soberano o mundo das forjas e dos ourives. Artista incomparável, modelou e fabricou as armas dos deuses e dos heróis. Para as deusas e as mais belas mulheres, o ourives do Olimpo confeccionou as mais lindas e preciosas jóias: broches, braceletes, colares, fechaduras secretas, tripés rolantes, autômatos. Na comunidade divina dos imortais, Hefesto era o senhor e o mestre do elemento ígneo e dos metais. Combatia com chamas, com metais em fusão e com barras incandescentes. Deus da metalurgia, foi o rei dos vulcões, onde se localizavam suas forjas. Três mitos de épocas diversas caracterizam bem o papel atribuído ao maior dos artistas: abriu a cabeça de Zeus, a fim de que nascesse Atena; por ordem do pai dos deuses e dos homens encadeou Prometeu e, por fim, modelou Pandora do limo da terra.

Estes traços talvez permitam demarcar alguns contornos e aspectos no simbolismo do mitologema do filho de Hera.

Consoante Chevalier e Gheerbrantt, Hefesto, porque ja deformado e coxo, revela uma dupla fraqueza espiritual. A perfeição técnica de suas obras lhe basta, deixando-o indiferente o valor e a utilização moral das mesmas: acorrenta Prometeu, ridiculariza Ares e Afrodite e prende a própria mãe num trono de ouro.

De outro lado, suas obras inimitáveis não refletem apenas o belo, mas são impregnadas de um tal poder mágico, que com elas ele domina inteiramente a quem as possuí ou usa. Nesse sentido, o artífice abusa de seu poder, para impor sua vontade. Foi exatamente com a magia de sua arte incomparável e perigosa que o deus coxo e deformado foi capaz de dominar as mais belas mortais e imortais. Na realidade, todo o esforço, toda a habilidade e ânsia de perfeição de Hefesto visaram à busca de uma compensação. Se sua mutilação lhe outorgou a capacidade incomparável de sua genialidade artística e o privilégio de atar e desatar, o deus soube se vingar dessa deformidade física com o êxito de sua arte e com suas conquistas amorosas. Se lhe foi possível, na planície de Tróia, assegurar a vitória do fogo sobre a água, o grande artista foi, no entanto, incapaz de garantir a harmonia dos elementos.

Trata-se na feliz expressão dos supracitados Chevalier e Gheerbrant, de um "demiurgo amoral transformado num apóstolo inspirado".


Nascimento de Hefesto

Hefesto (Vulcano), filho de Zeus e de Hera, nasceu fraco e corcunda. Hera, envergonhada de ter dado à luz uma criança tão feia, atirou-o ao mar, onde ele foi recolhido por Tétis e Eurinome. Passou nove anos a fazer jóias para as Nereidas. No entanto, subiu ao Olimpo, mas tendo assistido a uma disputa entre Zeus e Hera, desejou tomar o partido de sua mãe. O rei dos deuses pegou-o por um dos pés e precipitou-o do Olimpo. Hefesto rolou durante todo o dia no vácuo e caiu, ao entardecer, na ilha de Lemnos, com apenas um sopro de vida.

Hefesto é o fogo personificado: se é pequeno e mirrado ao nascer, é porque o fogo começa sempre por uma faísca. Se é precipitado do céu à terra, é por alusão ao raio. Finalmente, é corcunda e tem pernas tortas, porque a chama nunca apresenta linhas retas. Como a indústria nasceu do descobrimento do fogo, Hefesto é o deus da indústria, e apresenta sob essa relação grandes afinidades com Prometeu. Conservou-se na Antologia um epigrama votivo de um ferreiro a Hefesto:

"Retirai da fornalha este Areslo, estas tesouras, esta pinça, oferenda que Polícrates dedicou a Hefesto. Foi com redobrados golpes do seu Areslo sobre a bigorna, que arranjou para os filhos uma fortuna que deles afastará a triste miséria."


Tipo e atributos de Hefesto

Os poetas representam Hefesto com as feições de um hábil ferreiro, mas ao mesmo tempo burlesco no aspecto, assaz ridículo aos olhos dos Olímpicos, corcunda e de conformação viciosa. Nos tempos primitivos, era representado sob a forma de anão, mas nos belos tempos da arte passou a ser homem vigoroso e barbudo, com um capacete cônico tendo como atributos as ferramentas de ferreiro.

"Os que vão a Atenas, diz Valério Máximo, ali admiram a estátua de Hefesto feita por Alcamene. Entre as demais perfeições que imediatamente nos dispõem em favor do artista, notamos em primeiro lugar a arte com a qual ele dá a entrever a atitude torta do deus sob as próprias vestes que servem para lhe ocultar a imperfeição: não parece ser defeito que ele haja pretendido censurar em Hefesto, mas apenas um sinal distintivo, próprio a dá-lo a reconhecer como deus do fogo."

Hefesto fabricara a primeira mulher, Pandora, como Prometeu fizera o primeiro homem. É o divino obreiro do Olimpo, e os deuses lhe deviam quase tudo o de que se utilizavam. A égide e o cetro de Zeus, o trono do Sono, a coroa de Ariadne, o colar da Harmonia, os touros de bronze que guardavam o Velocino de ouro, as armas de Aquiles, eram trabalhos de Hefesto. Era ele, ademais, autor do carro do Sol, e fizera para Apolo uma admirável flecha que, após atingir o alvo, voltava por si à mão que a havia lançado.


Vingança de Hefesto

Para vingar-se dos pais que tão duramente o tinham tratado, Hefesto imaginou o fabrico de uma cadeira de ouro, da qual, quem nela se sentasse, só se levantaria com a sua permissão. Hera, que não conhecia o segredo, sentou-se e Hefesto não quis livrá-la. Uma curiosa pintura de vaso nos apresenta Hera sentada e Ares atacando Hefesto para libertar sua mãe. Hefesto não tinha forças para lutar contra o deus da guerra, e foi obrigado a ceder, mas a sua irritação foi tal que não mais quis voltar ao Olimpo. Os deuses afligiram-se com aquela resolução que os privava de todas as belas obras que lhes fazia Hefesto. Dioniso resolveu levá-lo de novo ao céu e embriagou-o. As pinturas de vaso nos mostram Hefesto segurando o Areslo e montado num burro. Dioniso, no seu costume oriental, precede o burro e parece conduzir o deus ferreiro, que ele conseguiu reconciliar com os demais imortais.


Os fios de Hefesto

Na Odisséia, Hefesto é marido de Afrodite. Outras tradições fazem, pelo contrário, de Afrodite, mulher de Ares. Como os deuses tinham nas diversas localidades lendas diferentes e por vezes contraditórias, a poesia, vendo Afrodite unida a Ares, ou unida a Hefesto, pretendeu conciliar as várias tradições por meio de um adultério, e daí saiu a história dos fios de Hefesto. Hesíodo dá por esposa a Hefesto Aglé, a mais jovem das Carites. Mas a história dos fios de Hefesto prevaleceu e faz que as outras sejam esquecidas. O que é notável nessa história é que Hefesto parece unicamente preocupado com os presentes que trouxe como dote à mulher e que ele pretende reaver.

O Sol que vê tudo advertiu Hefesto das ligações existentes entre sua mulher e o deus da guerra. Hefesto, então, coloca sobre um cepo unia enorme bigorna e forma grilhões indestrutíveis. Essas cadeias eram finas como teias de aranha, e ninguém conseguia percebê-las, tal a habilidade com que haviam sido feitas. Mal Hefesto viu os dois culpados enredados nos fios, pôs-se a chamar todos os deuses.

"Poderoso Zeus, e vós, imortais afortunados, acorrei para testemunhardes uma interessante cena que ninguém poderia, no entanto, tolerar! Visto que eu sou disforme, a filha de Zeus me ultraja sem cessar; agora, une-se ao pernicioso deus da guerra, por ser ele belo e esbelto, ao passo que eu sou feio e corcunda! Meus pais são os únicos culpados desta desgraça; jamais deveriam ter-me posto no mundo!. . . Os laços que forjei para eles hão de retê-los até o dia em que o pai de Afrodite me devolver todos os presentes que lhe dei para conquistar-lhe a impudente filha. Afrodite é bela, sem dúvida, mas não consegue dominar as suas paixões." (Homero).

Embora tal narração seja apresentada sob forma cômica, convém notar que é a confusão dos amantes que leva os deuses a rir, e não a desventura do esposo, como facilmente se supõe hoje.

Um baixo-relevo da Villa Albani nos mostra a cena dos fios de Hefesto. O deus ferreiro, que tem atrás o Sol reconhecível pela cabeça radiada, soergue um véu, e .mostra aos deuses os dois culpados. Ares está assaz confuso e Afrodite volta-se para não ser vista por Zeus. Eros está ao lado de Ares.


As forjas de Hefesto

Hefesto, trabalhando na sua forja, figura assaz freqüentemente nas pedras gravadas. Afrodite e Eros estão situados perto dele, e essa maneira de compreender a oficina de Hefesto é a única que convém a jóias.

Mas os verdadeiros companheiros de Hefesto aparecem noutros monumentos. São os ciclopes, fabulosos obreiros que só têm um olho no meio da testa e habitam as profundezas aos vulcões. Os baixos-relevos nos apresentam às vezes Hefesto na sua oficina, ocupado em fabricar a primeira mulher, Pandora, que todos os deuses cumulam de dons. Hera, a deusa dos casamentos, e Afrodite, acompanhada da Persuasão ou de uma das Graças, estão habitualmente colocadas ao lado do divino artista. Vemo-lo também forjar as cadeias de Prometeu, ou então receber a visita dos deuses.

Na arte dos últimos séculos, Velásquez pintou a oficina de Hefesto no momento em que o Sol lhe revela a união de Afrodite e Ares. Hefesto abandona os seus trabalhos e os três ciclopes, Arges, Brontes e Steropes, escutam com assinalada curiosidade a aventura narrada pelo Sol, sem darem mostras de pesar pelo infortúnio do mestre. Há no Louvre um pequeno quadro de Jules Romain, no qual Hefesto, sentado perto- de Afrodite, parece alegrar-se em lhe mostrar as armas que acaba de fabricar.

Os ciclopes

Os ciclopes, obreiros de Hefesto, são habitualmente caracterizados pela enormidade do vulto e pelo único olho, posto no meio da testa. Entretanto, Albane afastou-se muito desse tipo. Incumbido de pintar os quatro elementos para o cardeal de Sabóia, escolheu Hefesto e a sua forja para representar o fogo. Mas o seu quadro nada possui de terrível.

Eis um fragmento da carta que ele escreveu ao cardeal para lhe anunciar o envio do quadro pedido. "Pintei, como Vossa Alteza verá, não somente o fogo celeste e propriamente elementar, representado pelo pode-roso Zeus, senão também o fogo material e o do Amor, de que Hefesto e a deusa de Chipre são os emblemas: não quis colocar nas forjas de Hefesto nem Brontes, nem os demais ciclopes; preferi fixar três jovens Amores, visto que as carnes de meninos dessa idade constituem interessante oposição às amorenadas de Hefesto. Tive, também, de me conformar nessa escolha ao desejo de Vossa Alteza sereníssima, pois o embaixador me dissera que conviria representasse eu grande número de Amores ferindo com as suas setas irresistíveis o mármore mais duro, o aço, o diamante e o próprio coração dos deuses."

Noutro quadro Albane coloca Hefesto ao lado de Afrodite. A sua oficina já não é uma forja, mas um prado coberto de flores. Os seus obreiros não são mais s robustos ciclopes, e o ruído dos seus Areslos é temperado pelo das cascatas. Enquanto na entrada de uma gruta recoberta de musgo, um deles aciona o fole, outros apresentam a Afrodite as armas que acabam de fabricar para ela e para o filho : essas armas são naturalmente setas. A deusa, deitada descuidadamente à sombra dos bosquetes, sorri para tudo quanto a rodeia e seu esposo, o rude Hefesto, que repousa ao seu lado, busca tornar-se amável para não prejudicar o quadro.

Timanto pintara um quadrinho mencionado por Plínio como obra famosa e representando um ciclope adormecido, cujo polegar os sátiros medem com os seus Tirsos. A gigantesca estatura dos ciclopes e o barulho que fazem no fundo dos vulcões que lhes servem de oficina constituíam tema de espanto para os antigos.

Tais ferreiros enormes tornaram-se na imaginação popular obreiros tipos, e foram-lhes atribuídas, como se fez para o diabo na Idade Média, as construções cuja origem era desconhecida.

Os ciclopes sempre foram considerados como personagens formidáveis. Quando Diana quis ter uma aljava e setas dignas da sua habilidade, foi visitar Hefesto que ela encontrou na forja rodeado pelos ciclopes seus obreiros.

"As ninfas empalideceram à vista de tais gigantes semelhantes a montanhas e cujo olho único, sob espessa sobrancelha, brilhava ameaçadoramente. Uns faziam gemer imensos foles; outros, levantando os pesados Areslos. batiam furiosamente o bronze que tiravam da fornalha. A bigorna estremece, o Etna e a Sicília tremem, a Itália ecoa o estrondo e a própria Córsega se sacode. Àquele terrível espetáculo, àquele medonho fragor, as filhas do Oceano ficam estarrecidas... e trata-se, aliás, de um estarrecimento perdoável; as próprias filhas dos deuses, na sua infância, só encaram tais gigantes com temor, e quando se recusam a obedecer, suas mães fingem chamar Arges ou Steropes: Mercúrio acorre com as feições de um desses ciclopes, de rosto coberto de cinza e fumaça; imediatamente, a criança, aterrorizada, cobre os olhos com as mãos e se atira tremendo ao seio materno." (Calímaco).



Fontes: Templo de Apolo.net, BRANDÃO,Junito de Souza.Casamentos e uniões de Zeus.in:__________.Mitologia Grega, v2.15ª Ed.Vol 2.Petrópolis/RJ:Vozes,2009.Cap. 1.p.44- Foto: For www.terraforge-tcg.com © 2015 DLK Studios, Corp. All rights reserved. DLK Studios and TerraForge are trademarks of DLK Studios, Corp.
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