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Hécate - A Deusa Tríplice


Deusa aparentada a Artemis, não possui um mito próprio. Profundamente misteriosa, age mais em função de seus atributos. Embora descenda dos Titãs e seja portanto independente dos deuses olímpicos, Zeus, todavia, lhe conservou os antigos privilégios e até mesmo os aumentou. Em princípio, uma deusa benéfica, que derrama sobre os homens os seus favores, concedendo-lhes a prosperidade material, o dom da eloquência nas assembleias, a vitória nas batalhas e nos jogos, a abundância de peixes aos pescadores. Faz prosperar o rebanho ou o aniquila, a seu bel-prazer. É a deusa nutriz da juventude, em pé de igualdade com Apolo e Artemis. Eis aí um retrato de Hécate na época mais antiga. Aos poucos, todavia, Hécate foi adquirindo características, atributos e especialização bem diferentes. Deusa Ctônia, passou a ser considerada como divindade que preside à magia e aos encantamentos. Ligada ao mundo das sombras, aparece aos feiticeiros e às bruxas com uma tocha em cada mão ou ainda em forma de diferentes animais, como égua, loba, cadela. Tida e havida como a inventora da magia, o mito acabou por fazê-la penetrar na família da bruxaria por excelência: Eetes, Circe e Medéia. É assim que tradições tardias fizeram-na Mãe de Circe e, por conseguinte, tia de Medéia. Como mágica, Hécate preside às encruzilhadas, local consagrado aos sortilégios. Não raro suas estátuas representam-na sob a forma de mulher com três corpos e três cabeças.

Hécate é a deusa dos mortos, não como Perséfone, mas como divindade que preside às aparições de fantasmas e senhora dos malefícios. Empunhando duas tochas e seguida de éguas, lobas e cadelas é a senhora todo-poderosa invocada pelas bruxas. Seu poder terrível manifesta-se particularmente à noite, à luz bruxuleante da Lua, com a qual se identifica. Deusa lunar e ctônia, está ligada aos ritos da fertilidade. Sua polaridade, no entanto, já foi acentuada: divindade benfazeja, preside à germinação e ao parto, protege a navegação, prodigaliza prosperidade, concede a eloqüência, a vitória e guia para os caminhos órficos da purificação; em contrapartida, possui um aspecto terrível e infernal: é a deusa dos apavorantes. Mágica por excelência, é a senhora da bruxaria. Só se pode esconjurá-la por meio de encantamentos, filtros de amor ou de morte. Sua representação com três corpos e três cabeças presta-se a interpretações simbólicas de diferentes níveis. Deusa da lua pode representar-lhe três fases da evolução: crescente, minguante e lua nova, em correlação com às três fases da evolução vital. Deusa ctônia, ela reúne os três níveis: o infernal, o telúrico e o celeste e, por isso mesmo, é cultuada nas encruzilhadas, porque cada decisão a se tomar num trívio postula não apenas uma direção horizontal na superfície da terra, mas antes e especialmente uma direção vertical para um o para outro dos níveis de vida escolhidos.

A grande mágica das manifestações noturnas simbolizaria ainda o inconsciente, onde se agitam monstros, espectros e fantasmas. De um lado, o inferno vivo do psiquismo, de outro uma imensa reserva de energias que se devem ordenar, como o caos se ordenou em cosmo pela força do espírito.

A Hécate é que cabe a missão de chamar as Erínias vingadoras que se apoderam dos culpados. Hécate, divindade infernal, que preside os encantamentos e a magia, chama-se às vezes tripla Hécate, por se lhe estender o poder simultaneamente no céu, na terra e nos infernos. Aparece na arte como espécie de tríada composta de três mulheres. A primeira traz na cabeça o crescente da lua, e em cada mão um facho; a segunda tem a cabeça radiada e ornada de um gorro frígio; tem uma faca e uma serpente; finalmente, a terceira segura cordas e chaves.

Hécate não desempenha na Fábula papel nitidamente acentuado, e o seu caráter lunar fez com que, às vezes, a confundissem com Artemis. Fora esta a primeira em perceber o rapto de Core [mais tarde Perséfone], e pusera-se a procurá-la com os seus fachos. Na guerra dos gigantes, colocara-se, apesar de pertencer ao partido dos Titãs, ao lado de Zeus, e matara com o fogo dos fachos o gigante Clítio. A cena está representada num baixo-relevo antigo, onde Hécate se distingue perfeitamente de Artemis que combate ao lado dela com o arco e as flechas. Aliás já não tem o caráter de tríada de que somente se reveste em determinadas ocasiões.

Hécate não era na origem uma divindade infernal, mas tendo emprestado uns disfarces a Europa, facilitando assim os amores de Zeus, tornou-se odiosa a Hera e foi obrigada, para evitar uma perseguição, a ocultar-se sob um lençol, o que a tornou impura. As cabiras, por ordem de Zeus, purificaram-na no Aqueronte, e desse modo passou a ser deusa do Tártaro. O seu papel nos infernos tem duplo aspecto. Como divindade vingadora, preside às expiações ; como deusa da magia, preside os encantamentos, e é ela que envia à terra os monstros evocados dos infernos.

Hécate é a grande mágica que se invoca para os encantamentos: detém-se nas encruzilhadas, perto dos túmulos, e quando sente o cheiro de um crime, faz que ladrem os cães infernais que a acompanham.

"Hécate, diz Creuzer, quer dizer aquela que age de longe, ou aquela que afasta, que repele. Ofereciam-se-lhe sacrifícios expiatórios, espécies de lustrações domésticas feitas pela fumaça, celebradas no dia 30 de cada mês, e onde eram objetos essenciais ovos e jovens cães. Os restos (lesses animais e das demais ofertas, reunidos a muitos comestíveis, deviam ser expostos nas encruzilhadas, e diziam-se o festim de Hécate. Muitas vezes os pobres e os cínicos saqueavam esses restos com uma avidez que para os antigos era o sinal da extrema indigência ou da última baixeza. O cão era o animal consagrado a Hécate. Alguns monumentos mostram tal deusa tendo um cão ao colo, a quem parece acariciar. Representavam-na também com uma cabeça de cão, e talvez fosse aquela a sua antiga forma mística, a forma sob a qual era adorada nos mistérios da Samotrácia, onde se imolavam cães em sua honra. Hécate tinha também os seus mistérios, particularmente em Egina; e a instituição se prendia a Orfeu. Viam-se na ilha várias estátuas da deusa, uma das mãos de Miro, com um só rosto, outras com três, atribuídas ao famoso Alcameno."



Fontes: Templo de Apolo.net, Mitologia Grega Online, Greek Goddess,
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