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Jasão - O Líder Dos Argonautas


Filho de Esão e de Polímede ou Alcímede, muito menino ainda, sofreu as amarguras do exílio. É que seu pai, legítimo herdeiro do reino de Iolco, fora destronado e condenado à morte por seu meio-irmão usurpador Pélias, filho de Tiro e Posídon. Narra outra versão que Esão, já idoso, havia confiado o reino a Pélias, até que Jasão atingisse a maioridade. Educado pelo centauro Quirão, foi instruído, entre outras artes, na Iátrica. Completada a iniciação, no aprazível monte Pélion, o herdeiro do trono de Iolco, já com vinte anos, deixou o mestre, desceu o monte e retornou à cidade natal. Sua indumentária era estranha: coberto com uma pele de pantera, levava uma lança em cada mão e tinha apenas o pé direito calçado com uma sandália. O rei, que no momento se preparava para oferecer um sacrifício, o viu e embora não o tivesse reconhecido, ficou muito assustado, porque se lembrou de um oráculo segundo o qual "deveria desconfiar do homem que tivesse apenas uma sandália", isto é, de um (monosándalos), como diz Apolodoro.

Jasão permaneceu cinco dias com o pai e no sexto apresentou-se ao tio e reclamou o trono, que, de direito, lhe pertencia. Pélias concordou, desde que Jasão lhe trouxesse da Cólquida o Velocino de Ouro, que estava em poder de Eetes. Consoante uma variante, foi o próprio herói que se obrigou a tão grande empresa.

Segundo outras versões, a tarefa imposta a Jasão pelo tio obedeceria a outras razões: quando o herói se apresentou a Pélias para reclamar o trono, o soberano, observando que o sobrinho usava tão-somente uma sandália, compreendeu que o perigo anunciado pelo oráculo era iminente. Mandou que Jasão se aproximasse e perguntou-lhe que castigo infringiria, se fosse rei, à pessoa que o ameaçasse. O jovem respondeu que a mandaria conquistar o Velocino de ouro; ao que o soberano, de imediato, o despachou para realizar tamanho empreendimento, pois era ele próprio que punha em risco a vida do soberano.

Alguns mitógrafos posteriores, mas sobretudo poetas, julgam que a ideia da conquista do precioso Velocino fora sugerida ao herói pela deusa Hera que, profundamente irritada com Pélias, porque este não lhe prestava as honras devidas, queria encontrar um meio de trazer Medéia, a fim de que a mágica da Cólquida o matasse.

Seja qual for o móvel da expedição, o filho de Esão ordenou que um arauto convocasse príncipes e heróis para o magno cometimento.


O drama de Medéia

Eetes, filho de Hélio e da oceânida Perseida, recebera dopai o reino de Corinto, mas deixou o trono vacante para reinar na Cólquida, cuja capital era Fásis, às margens do rio do mesmo nome. Eetes se casara com Eurilite ou com a nereida Neera, com a oceânida Idíia ou ainda, segundo algumas versões, com sua própria sobrinha, a terrível Hécate. Seja como for, filha de Hécate ou sobrinha de Circe, Medéia conhecia profundamente os segredos da bruxaria e dos sortilégios. "À época" em que se passa o "drama de Medéia", Corinto é governada por Creonte, filho de Liceto, que é preciso não confundir com o segundo Creonte, o tebano, filho de Meneceu, e irmão da infortunada Jocasta.

Jasão e Medéia, expulsos de Iolco, viviam em paz em Corinto, quando o rei Creonte concebeu a idéia de casar sua filha Glauce ou Creúsa com o herói dos argonautas. Jasão, sem tergiversar, aceitou o enlace real e repudiou Medéia, que foi banida de Corinto pelo próprio soberano. Implorando-lhe o prazo de um só dia, sob o pretexto de se despedir dos filhos, a feiticeira da Cólquida teve tempo suficiente para preparar a mortal represália.


Enlouquecida pelo ódio, pela dor e pela ingratidão do esposo, resolveu vingar-se tragicamente, enviado à noiva de Jasão, por intermédio de seus filhos Feres e Mérmero, um sinistro presente de núpcias. Tratava-se de um manto o ude um véu e de uma coroa de ouro, impregnados de poções mágicas e fatais. A própria Medéia, na tragédia homônima de Eurípedes, deixa bem claro o poder terrível de semelhantes adornos:

Se ela aceitar estes atavios e com eles se engalanar, perecerá horrivelmente e, com ela quem a tocar: tal o poder dos venenos com que ungirei meus presentes. (med. 787-789) Vaidosa, Glauce, sem hesitar, não apenas aceitou, mas igualmente se ataviou com o lindíssimo véu e a coroa de ouro, prenúncio da coral real, que, em breve, luziria sobre sua fronte jovem e bela. A princesa, todavia, teve apenas tempo de se ornamentar. De imediato, um fogo misterioso começou a devorar-lhe as carnes e os ossos. O rei, que correra em socorro da filha, foi envolvido também por esse incêndio inextinguível, que os transformou rapidamente num monte de cinzas. Não parou aí a vindita louca da filha de Eetes. Também os filhos morrerão pelas mãos da própria mãe, para que Jasão sofra uma solidão mais aterradora do que aquela que lhe desejara:

Mas aqui mudo minha maneira de falar, e gemo sobre o que terei de fazer a seguir: matarei meus filhos queridíssimos e ninguém pode salvá-los. E, quando tiver aniquilado toda a família de Jasão, sairei desta terra, expulsa pelo assassinato de meus filhos queridos, e pelo crime horrendo que tiver ousado cometer. (Med. 790-796).

Mortos Creonte e Creúsa e incendiado o palácio real, Medéia assassinou os próprios filhos no templo de Hera e, num carro alado, presente de seu avô Hélio, o Sol, puxado por dois dragões ou duas serpentes monstruosas, fugiu para Atenas. Este exílio na pólis de Palas Atena, prodigalizado por Egeu, acabou igualmente de maneira dolorosa para o rei de Atenas e para a própria princesa da Cólquida. É que Medéia, em tudo que fazia, sempre colocou a paixão como fio condutor de suas ações. Ela própria o afirma na tragédia euripidiana: (thymòs dè kreísson tôn emôn buleumáton) - a paixão é mais forte em mim do que a razão (Med 1.079).

Existe uma versão segundo a qual a morte dos filhos pela própria mãe teria sido uma "criação" de Eurípedes. Na realidade, a tradição mais seguida no mito é a de que Feres e Mérmero teriam sido lapidados pelos habitantes de Corinto pelo fato de terem levado a Glauce os presentes fatídicos de Medéia.

Uma variante, certamente tardia, atesta que Medéia, após matar, na Cólquida, seu tio Perses e repor Eetes no trono, não teria morrido; mas transportada para os Campos Elísios ou para a Ilha dos Bem-Aventurados, se teria consorciado co o divino Aquiles. É bem verdade que, após gravitar na Odisséia entre os (eídola) abúlicos do Hades, o grande herói da Ilíada fora também promovido à Ilha dos Bem-Aventurados. Aí o encontramos casado ora com Ifigênia ora com Helena (e mais uma vez o pacífico Menelau ficou solitarius) ou ainda com a filha de Hécuba, Políxena, imolada sobre o túmulo do herói, mas sua união com Medéia é estranha. Seria um par sumamente Antitético.

A carta 12, Medea Iasoni, de "Medeia e Jasão", é uma missiva bem ao estilo da tragédia euripidiana: a princesa da Cólquida, abandonada pelo marido, que se enamorou de Creúsa ou do trono de Corinto, explode primeiro em saudades e paixão... Depois contrapões seu amor total à ingratidão do marido e passa dos gemidos às mais terríveis ameaças: enquanto houver ferro, fogo e ervas venenosas sua ira e vingança não se extinguirão. Em suas palavras, os vocábulos "fogo e chamas" mudam de acepção, quando soprados pelo amor ou pelo ódio.

Apesar de tudo, apesar de todo ressentimento, o amor e as chamas não se apagam, porque não se podem ocultar. Tudo fizera por ele: traiu o pai, abandonou mãe e irmã, matou o próprio irmão. E mais: entregou-se a ele. O marido, que salvara, agora está sendo acariciado por outra mulher. É contra Glauce primeiramente que se ergue a ira de Medéia, mas, enquanto existirem chamas e ervas venenosas, ninguém escapará a seu ódio e vingança. E jura, por fim, que irá até onde o ódio puder conduzi-la: Irei até onde me arrastar o ódio, seja disto testemunha o deus que agora revolve os tormentos no meu peito! (Her. 12,209-211) Consoante alguns mitógrafos, Jasão pereceu tragicamente em Corinto. Decadência e morte de Jasão

Jasão, desejoso de regressar a Iolco, se aliou a Peleu, inimigo figadal de Acasto, por culpa da esposa deste, Astimadia, e com auxílio dos Dioscuros, destruiu a cidade, assumindo o poder, que, logo depois, passou para seu filho Téssalo.

O frágil e indeciso Jasão, todavia, não foi esquecido. Ovídio, nas Heróides, fez que duas apaixonadas suspirassem de saudades e de ódio pelo conquistador do Velocino de ouro. A carta à, Hypsipyle Iasoni, de "Hípsípila a Jasão", é o desabafo da rainha das Lemníades, a quem o herói seduzira e deixara grávida de gêmeos na passagem pela ilha de Lemnos em direção à Cólquida. Hipsípila exprobra Medéia, "feia e estrangeira, estrangeira cruel", que lhe roubara o amante. Apesar de tudo, ainda acredita na força do amor, já que "o amor crê em tudo".

Embora tenha feito promessa solene de voltar a Lemnos, a rainha sabe que "ele é volúvel e mais indeciso que as auras primaveris" e que não cumprirá o compromisso assumido. Em todo caso, serve-lhe de lenitivo o saber que "Medéia lhe ganhou o namorado com ervas feiticeiras, quando o amor deve ser conquistado com beleza e dignidade". Consoante alguns mitógrafos, Jasão pereceu tragicamente em Corinto. Um dia de muito calor, descansava sob a nau Argo, que havia sido retirada do mar para conserto e uma viga da nau, caindo sobre ele o matou. Duas ilhas, certamente, o choraram: Lemnos e Avalon. A história testemunha, através de inúmeros exemplos, aliás sempre repetidos, o sentido secreto do mito, cujo herói mais representativo é Jasão. Sua perversidade converte-se, no plano essencial, em flagelo que devasta o país, o mundo: as astúcias, de que tanto se aproveitou, voltaram-se contra ele próprio. Vítima de intrigas, foi afinal expulso de Iolco.

Todo o seu governo, no entanto, foi caracterizado pela influência nefasta e crescente da feiticeira, símbolo da perversão banal. Os delitos se acumularam. É bastante relembrar aquele bem conhecido, que tanto concorreu para acelerar o fim desastroso do herói derrotado. Para fugir à bruxaria funesta, Jasão tentou abandonar Medéia. A mágica, transmutada em Erínia, matou seus próprios filhos. Já que todas as personagens do mito possuem, em última análise, valor simbólico, pode-se ver nesse crime hediondo, consoante o simbolismo "criança, fruto da atividade sublime ou perversa", a imagem da desolação e do aniquilamento, que são os únicos a subsistir, uma vez passada a dominação pervertida. Configurando as forças destruidoras do inconsciente, a mágica, de que Jasão se quis servir para alcançar a vida sublime, é o instrumento fatal de sua punição e de seu sofrimento. Jasão morreu quando descansava sob a nau Argo, atingido por uma viga, caída do próprio barco, que deveria tê-lo conduzido a uma vida heróica.

A nau é o símbolo das promessas juvenis de sua vida, das gestas de aparência heróica, que lhe conquistaram a glória. O herói vencido desejou repousar à sombra de sua glória, por acreditar que ela seria suficiente para justificar-lhe a vida inteira. Caindo em ruínas, a Argo, símbolo da esperança heróica da juventude de Jasão, converte-se em símbolo da ruína final de sua vida. A viga é uma transformação da clava. É o esmagamento sob o peso morto, o castigo da banalização.

Ao passar em revista o pensamento de Diel sobre o mito de Jasão, convém insistir em que o muito é um feixe de símbolos e uma interpretação é apenas uma das interpretações. Outras que surjam só podem concorrer para o enriquecimento do mitologema, neste caso tão vasto e tão doloroso.


Fontes: Templo de Apolo, BRANDÃO,Junito de Souza.Jasão: o mito dos Argonautas.in:__________.Mitologia Grega, v3.Vol 3.Petrópolis/RJ:Ediouro,2001.Cap. 5.p.175-207,. Mitologia Grega. br


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