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Onryõ - Os Espíritos Vingativos


Na literatura e crenças tradicionais japonesas, onryō (怨霊, literalmente "espírito vingativo", às vezes traduzido como "espírito irado") refere-se a um fantasma (yūrei) capaz de causar danos no mundo dos vivos, ferindo ou matando inimigos, ou até mesmo causando desastres naturais para se vingar em uma tentativa de "reparar" os erros que recebeu enquanto vivo, depois tirando seus espíritos de seus corpos agonizantes. Os fantasmas Onryō são muitas vezes mulheres injustiçadas, que ficam traumatizadas com o que aconteceu durante a vida e se vingam após a morte.


Onryô são um pouco parecido com goryō (御霊) - fantasmas vingativos de aristocratas, especialmente aqueles que foram martirizados na vida - , exceto que no culto do goryō, o fantasma atuante nem sempre é necessariamente um espírito irado.


Origem

Embora a origem do onryō não seja clara, a crença em sua existência acontecia muito até o século VIII e foi baseada na ideia de que almas poderosas e enfurecidas dos mortos poderiam influenciar, prejudicar e matar os vivos.


O primeiro crença em onryō que se criou foi em torno do príncipe Nagaya, que morreu em 729; e o primeiro registro de possessão pelo espírito onryō é encontrado na crônica Shoku Nihongi (797), que afirma que "Fujiwara Hirotsugu (藤原広嗣 - o espirito vingativo ) prejudicou Genbō até a morte" (Hirotsugu morreu em uma insurreição fracassada, chamada de "Rebelião Fujiwara no Hirotsugu", depois de não conseguir tirar seu rival, o sacerdote Genbō, do poder).


Acredita-se que o imperador Antoku (22 de dezembro de 1178 – 25 de abril de 1185) e o imperador Daigo (6 de fevereiro de 885 – 23 de outubro de 930) na história japonesa tenham sido onryōs.


Outra versão

Uma das lendas sobrenaturais japonesas mais famosa e, indiscutivelmente, a onryō mais conhecida, cujo rancor e maldição ainda é temido até os dias atuais, é Oiwa. O conto assombrado é baseado em um acontecimento real sobre uma jovem que, em um elaborado e sinistro plano, foi brutalmente desfigurada e, em seguida, assassinada pelo marido, um homem extremamente mau e ganancioso.


Sua história é contada em Yotsuya Kaidan, “The Ghost Story de Yotsuya”, uma obra-prima do gênero, originalmente escrito em 1825 como uma peça Kabuki pelo famoso dramaturgo contador de histórias de fantasmas, Tsuruya Nanboku IV. A peça foi exibida pela primeira vez no dia 26 de Julho no Teatro Nakamura-za em Edo (antiga Tóquio). A data da exibição foi escolhida para eternizar o tema como “Yurei no hi”, o Dia dos fantasmas no Japão.


Sobre a vingança-

De acordo com a crença de Ikiryō, quando uma pessoa está a beira da morte e sentindo muito ódio ou ressentimento, a alma dessa pessoa pode se separar do corpo, se transformando assim em um onryō. Isso também pode ocorrer em indivíduos que morreram prematuramente.


Tradicionalmente no Japão, onryō movidos por vingança eram considerados capazes de causar não apenas a morte de seus inimigos, mas também desastres naturais como terremotos, incêndios, tempestades, seca, fome e pestilência. Na linguagem comum, tal vingança exigida por seres ou forças sobrenaturais é denominada tatari (祟り).


Onryō em Produções de Terror

Contos sobre Onryō são hoje um dos temas mais explorado por produções do gênero de terror, os fantasmas mais comum visto em filmes japoneses. O mito assustador de Oiwa, sobre vingança e assassinato real, tem sido adaptado inúmeras vezes, recontada em livros, ukiyo-e, Kabuki e filmes. Há muitas versões cinematográficas inspiradas no Yotsuya Kaidan:


okaido YosuyaKaidan (The ghost of Yotsuya, 1959), filme clássico de horror japonês, dirigido por Nobuo Nakagawa, um grande mestre do gênero (considerado o Hitchcock japonês).

Assim como em Hamlet de Shakespeare, reza a lenda que uma maldição acompanha a sua história, e que aqueles que a recontar, sofrerá lesões até a morte. Por este motivo, produtores, atores e suas equipes costumam visitar o túmulo de Oiwa em Tóquio, antes de produções ou adaptações de Yotsuya Kaidan serem realizadas, rezando por sua alma e pedindo sua bênção para contar sua história mais uma vez.


A data de sua morte está listada como 22 de fevereiro de 1636. Hoje, Oiwa também é homenageada em um santuário em Yotsuya chamado, “Oiwa Inari Tamiya Jinja”, que foi supostamente construído pelos Tamiyas para apaziguar seu espírito enfurecido. O corpo de Oiwa, no entanto, em 1909 foi transferido para o Templo Myogyo-ji, próximo a Nishi Sugamo, e recebe milhares de visitantes.


Oiwa: A história real

Oiwa era uma jovem muito bonita que vivia em um vilarejo chamado Yotsuya (hoje um bairro de Tóquio). Ela era apaixonada por um guerreiro chamado Iemon, um rapaz de família humilde que, porém, chamava a atenção de Oiwa. Iemon também se mostrava interessado pela jovem, mas seus pais eram contra o relacionamento, eles acreditavam que o rapaz não tinha uma boa índole e não seria boa companhia para sua filha.


Certo dia, cansado com a desaprovação e desconfiança, Iemon preparou uma emboscada assassinando covardemente com sua ‘katana’ (espada japonesa) o pai de Oiwa. A bela jovem ficou arrasada, Iemon fingindo uma bondade que não tinha, disse que se vingaria dos assassinos do pai de Oiwa. A inocente Oiwa acreditou em Iemon, sem ao menos desconfiar que ele fosse o verdadeiro assassino de seu pai.


Passado pouco tempo, Oiwa e Iemon se casaram, logo, o casal teve um filho. Mas Oiwa adoeceu após o parto. Depois disso, a desconfiança que os pais dela nutriam em relação a Iemon, se confirmou. O rapaz passava a maior parte dos dias fora de casa, e nunca se preocupava em ajudar Oiwa a tratar a doença, e muito menos cuidar do filho recém-nascido. Não demorou muito, seu caráter traiçoeiro o levou a começar um novo relacionamento com uma bela e jovem rica do vilarejo, chamada Oume. Iemon e Oume se relacionaram por vários meses, e nesse tempo, transformou-se em tormento na vida de Oiwa. O rapaz a maltratava continuamente, e por vezes, usava de violência para reprimi-la.


Ambicioso, Iemon só tinha olhos para a fortuna da família de Oume, e para que pudesse conseguir seu objetivo de riqueza, decidiu se livrar de Oiwa. Durante um jantar, Iemon ofereceu um alimento envenenado para a esposa. Não demorou muito para que ela começasse a sentir-se mal, mas não morreu de imediato. A partir de então, Oiwa começou a perder gradativa e rapidamente seus cabelos, e seu belo rosto foi se deformando até ficar extremamente desfigurado.



Vendo que seu plano de envenenar Oiwa não dera certo, Iemon pensou em outra forma para livrar-se da mulher. Ele contratou um jovem para seduzir Oiwa, assim poderia acusar a esposa de infidelidade e acabar com o casamento. Mas o jovem recrutado, vendo a aparência e a triste situação de Oiwa, decidiu revelar todo o covarde plano de Iemon. Oiwa ficou arrasada ao saber do funesto intento do marido, cortando a própria garganta. Iemon com medo de que o jovem revelasse seu plano para os demais moradores do vilarejo, o assassinou e jogou seu corpo junto ao de Oiwa em um rio, acusando-os em seguida de serem amantes.


Livre de Oiwa, Iemon se casou com Oume. No entanto, na noite de núpcias, o espirito de Oiwa voltou para se vingar. Iemon começou a ter visões da esposa morta por toda a parte. Apavorado com o que estava vendo, pegou a sua espada e saiu desferindo golpes para todos os lados com o intuito de acertar o espectro de Oiwa.

O horrorizado Iemon investiu com sua espada contra o rosto da aparição, cortando sua cabeça. Mas quando a cabeça decepada finalmente parou de rolar no chão… Ela tinha o rosto, não de Oiwa, mas de sua noiva, Oume. A cada pessoa que se aproximava de Iemon ele via em seus rostos a face aterradora de Oiwa, isso fez com que também assassinasse tanto o pai, quanto a mãe de sua noiva.


Não se sabe ao certo o que aconteceu com Iemon depois desse dia. Dizem que ele se suicidou, mas também se conta que foi morto pelo espírito vingativo de Oiwa.


O povo do vilarejo tentou levar paz ao espírito atormentado de Oiwa, enterrando adequadamente seu corpo. Mas isso aparentemente não funcionou. Dizem que o fantasma perturbado e rancoroso ainda lança maldições sobre as pessoas. Segundo o mito, pessoas que se aproximaram de seu túmulo por curiosidade ou descrença, tiveram seus rostos deformados misteriosamente…

Seja qual for sua origem, a ira indiscriminada das Onryō tornam-nas uma das entidades sobrenaturais mais temidas de todo o Japão.


Fontes: https://en.wikipedia.org/wiki/Onry%C5%8D, https://cacadoresdelendas.com.br/japao/onryo-e-yurei-espiritos-vingativos-do-japao/
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