Segundo o "Popol Vuh" - o livro sagrado dos Maias -, existia nas antigas terras de Yucatã (México), um espaço de obscuridade e mistério. Era o "Submundo", habitado por uma legião de seres mitológicos e comandado pelos Deuses da Morte. Esse lugar existe geograficamente, e é hoje alvo da arqueologia, que aos poucos, nos revelam descobertas estarrecedoras.
Existe abaixo de Yucatã, uma gigantesca rede subterrânea de tuneis esculpidos pacientemente pela natureza. Ela é formada por milhares de passagens interligados, hoje debaixo d'água. Os antigos maias, que viveram ali por centenas de anos, desenvolveram toda uma mitologia em torno desses tuneis e de suas "portas" de entrada, chamadas Cenotes. Os cenotes podem ser visitados hoje, e são incríveis poços de água cristalina - alguns imensos - que dão acesso a essa rede subterrânea. Quase toda a água doce da região provém dessas grutas e rios, que correm abaixo do solo. Não é por acaso, que algumas cidades maias - como Mayapán e Chichen Itzá - foram construídas ao lado de famosos cenotes. Além de locais mitológicos - divisores entre o terreno e o mundo das sombras - eram também provedores de água doce.
Para os maias, o Submundo era um lugar habitado por deuses malignos. Um caminho marcado pelo perigo e proibido aos estranhos que não o conheciam. Governavam essa terra de mistérios dois senhores demoníacos: Hun-Camé e Vucub-Camé. Seguiam-se a eles Xiquiripat, Ahalpuh, Chamiabac, Chuchumaquic, Ahalcaná, Quicxic, Chamiaholom, Patán, Quicré, Quicrixcac e Kinich-Ahau (personificação do medo e do sofrimento humano). A lista desses deuses é vasta e contraditória. O leitor certamente encontrará outros nomes como Sukukyum e Yum Kimil (Senhor dos Mortos). Essa legião de deuses era conhecida como Senhores de Xibalbá. A mitologia maia nos conta que ao morrer, os homens não eram julgados em Xibalbá. Ao invés disso, para chegarem lá, deveriam passar por uma série de provações, nas quais enfrentavam animais selvagens, fogo, frio, rios traiçoeiros e penhascos.
A mitologia relacionada ao Submundo era motivo de adoração e, aos seus deuses, eram feitos sacrifícios. Em 2011, no cenote de Chichen Itzá, o arqueólogo Guillermo de Anda (Universidad Autônoma de Yucatã) encontrou a cerca de 5 metros de profundidade, uma oferenda que, pelo seu simbolismo, foi dedicada ao Deus da Chuva: Tlaloc. Além de cerâmica e carvão, foram encontrados esqueletos de um cachorro e um veado (animais que caminhavam pelo Submundo), além de restos humanos de 6 indivíduos e uma faca de sacrifício. No mesmo local, descobriram depois esqueletos de 20 indivíduos, há cerca de 50 metros de profundidade. A cada ano que passa mais e mais oferendas são descobertas pela arqueologia subaquática nos aquíferos maias, revelando dados preciosos sobre o que eles compreendiam como o Submundo de Xibalbá.
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